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Sem dar dados, SP diz que CoronaVac tem eficácia para pedir uso emergencial

O governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciaram hoje que a vacina CoronaVac, contra covid-19, produzida em parceria com o laboratório SinoVac, apresentou segurança eficácia suficiente, na fase 3 de testes, para pedir registro de uso emergencial. A porcentagem dessa eficácia não foi divulgada por enquanto. Mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vai receber os dados daqui a cerca de 15 dias, analisar e apresentar uma resposta, com aprovação ou não.


Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, explicou por que a porcentagem de eficácia não foi divulgada hoje. Segundo ele, foi um pedido do SinoVac, previsto em contrato. O objetivo é que os dados sejam comparados a resultados de pesquisas em outros países, evitando que a vacina tenha diferentes índices de eficácia anunciados.

“Essa solicitação da Sinovac tem respaldo no contrato e só podemos divulgar esse número em conjunto. E vamos fazer no tempo oportuno. Esperamos que seja o mais rápido possível”, explicou Dimas, que prometeu que isso não vai interferir no processo de aprovação dos das vacinas.


O Secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, também declarou que a porcentagem de eficácia é suficiente para aprovação.


“Atingimos a superioridade da eficácia da vacina do Instituto Butantan com a SinoVac para covid-19. Atingiu-se aí os índices exigidos tanto pela Anvisa quanto pela OMS nos estudos de fase 3. Isso permitirá com que evitemos a morte de milhares de pessoas, não só no país, mas em todo mundo”, anunciou o Secretário.


Jean foi perguntado se a falta de divulgação da eficácia aconteceu por causa de uma decepção no resultado. Ele negou e disse que o adiamento demonstra isonomia nos dados.


“Quando os estudos foram começados, nosso objetivo é que a eficácia fosse superior a 50%. Se fosse 51% para nós já era importante, principalmente no momento em que vivemos uma crise sanitária. Uma vacina que jpa represente essa mínima superioridade já e um momento de festejar. O fato disso (adiamento) acontecer transmite isonomia, para que uma empresa possa dizer que todo estudo tem o mesmo percentual de eficácia em qualquer lugar do mundo. É isso que a própria empresa entendeu. Ela quer isonomia, quer que todos os resultados sejam iguais, sem nenhuma disparidade”, explicou Jean.


O Instituto Butantan também informou que os testes mostraram baixa frequência de reações adversas.


“A CoronaVac tem um excelente perfil de segurança com manifestações adversas leves, em uma frequência muito baixa. A reação mais presente é a dor no local da injeção entre o grupo vacinal e o grupo que recebeu o placebo”, explicou Covas.


Dimas também foi perguntado sobre como está o contato com a Anvisa. Ele afirmou que houve uma reunião hoje entre as duas partes e também revelou um pedido feito pela agência.


“Alguns minutos antes de vir para essa coletiva eu falei com Doutor Gustavo Mendes, o diretor da área em que discutimos os estudos, Liguei dando a notícia do que seria feito na coletiva e confirmando que estão, neste momento, a Anvisa e o Butantan, em reunião técnica. Ele me fez um pedido, que avisasse com certa antecedência quando esses dados estivessem sendo disponibilizados para Anvisa, para que ele se preparasse para fazer a análise o mais rapidamente possível. Claro que vamos fazer isso”, prometeu Dimas.


Início da vacinação
O governo de São Paulo divulgou recentemente um PEI (Programa Estadual de Imunizações) e marcou o início da vacinação para o dia 25 de janeiro.

Essa data está mantida. O governo já admitiu também que isso pode começar antes se a CoronaVac for adquirida oficialmente pelo Ministério da Saúde, para fazer parte do PNI (Programa Nacional de Imunizações).


Depois de muitas discussões e polêmicas públicas sobre a CoronaVac, o Governo Federal tem negociado com o Instituto Butantan para comprar doses da vacina. Um contrato já está praticamente fechado e prevê a compra de 46 milhões de doses. A entrega deve acontecer em 3 partes: 9 milhões de doses em janeiro, 15 milhões em fevereiro e 22 milhões em março. Além disso, existe outra negociação para compra de mais 100 milhões de doses, que seriam entregues até o final do 1º semestre de 2021.


O Ministério da Saúde não fez previsão de uma data para começar a vacinação. Mas de acordo com o PNI, depois que a Anvisa der o aval para qualquer vacina, e as doses estiverem disponíveis, a distribuição dos imunizantes acontecerá em no máximo 5 dias.


Discussões e polêmicas
A vacina CoronaVac foi negociada e comprada diretamente pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Isso tem gerado sucessivas polêmicas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que vê o tucano como possível adversário nas eleições presidenciais de 2022. Ambos alegam que o adversário está fazendo uso político da vacina.


O auge dessa discussão aconteceu em outubro, quando o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou um documento em que manifestava interesse de comprar a CoronaVac. No dia seguinte, Bolsonaro disse que ia cancelar esse ofício e afirmou que não compraria a vacina. O presidente alegou que não confiava no imunizante porque ele vinha da China.


Durante a realização da fase 3 de testes, quando houve uma interrupção por causa da morte de voluntário, Bolsonaro chegou a comemorar a suspensão, escrevendo nas redes sociais que era uma vitória contra Doria. Depois ficou comprovado que a morte foi por suicídio e não teve relação com a vacina.


Recentemente, em um evento oficial do Ministério da Saúde, Bolsonaro afirmou que comprará qualquer vacina que for aprovada pela Anvisa. Apesar disso, tem feito campanha para que o imunizante não seja aplicado de forma obrigatório e também alertado para consequências graves da vacinação. Os testes realizados na fase 2 já mostraram a segurança da CoronaVac e foram publicados na revista científica Lancet.


Produção de doses
Até o final deste mês, o Butantan vai dispor de 10,8 milhões de doses da vacina em solo brasileiro. Amanhã um carregamento com insumos para 5,5 milhões de doses desembarca no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas.


Três remessas anteriores garantiram 3,12 milhões de doses ao Butantan. O novo carregamento é formado por 2,1 milhões de doses já prontas para aplicação e mais 2,1 mil litros de insumos, correspondentes a 3,4 milhões de doses. Os carregamentos finais de 2020 estão previstos para os dias 28, com 400 mil doses, e 30, com mais 1,6 milhão de doses.


Vacinação pelo mundo
Por enquanto Arábia Saudita, Canadá, Estados Unidos, China, Rússia e Reino Unido já iniciaram a aplicação de vacinas contra o coronanvírus em sua população.


A Suíça foi o primeiro país a autorizar uma vacina de forma padrão, e não de uso emergencial. A vacina da Pfizer começará a ser aplicada nos próximos dias.


Já os 27 países da União Europeia devem começar a vacinar a população em conjunto no dia 27 de dezembro. O Reino Unido, que deixou o bloco, começou a vacinação mais cedo que os países vizinhos.


Na Turquia, o anúncio dos resultados do estudo clínico da CoronaVac é esperado com expectativa.


“Estamos aguardando ansiosamente”, escreveu ao UOL o professor Murat Akova, coordenador das pesquisas sobre a vacina no país, integrante do departamento de Doenças Infecciosas da Universidade de Hacettepe, e membro da ESCMID (sigla para Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas).


Segundo Akova, o governo turco planeja iniciar a vacinação em meados de janeiro caso sejam positivos os resultados da fase 3 do estudo da Sinovac e do Instituto Butantan.


Por – Allan Brito, Felipe Oliveira e Wanderley Preite Sobrinho – Do UOL, em São Paulo.

Como está a vacinação pelo mundo:


Verde: Já iniciou
Azul: Com vacina, sem data
Amarelo: Sem vacina, sem data.


Foto – Vacina CoronaVac foi desenvolvida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês SinoVac – Imagem: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO.